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                      |  
                          Ave 
                          Maria do GaúchoTeixeirinha
 |  
                     
                      | Ave 
                        Maria do Gaúcho quando ele sai campo a fora Também reza um Padre-Nosso pede pra Nossa Senhora
 Pra livrar raio e trovoada temporal vem sem demora
 A chinoca lá no rancho também reza nesta 
                        hora
 Ele apressa sua tropa era boi vamos embora
 
 “Virgem-Santa ouve as preces que ele rezou com fervor
 o temporal já se espalha e o céu já 
                        muda de cor
 ele tira o seu chapéu olha o céu do Redentor
 obrigado Virgem-Santa
 obrigado meu Senhor
 posso voltar pro meu rancho
 ver a china meu amor"
 
 Na planície ou na coxilha lá vai um gaúcho 
                        andando
 Muitas vezes numa restinga tem uma cobra esperando
 No estouro de uma tropa ou um boi brabo avançando
 Na rodada de um cavalo ou um furacão roncando
 Pra livrar destes perigos Ave-Maria vai rezando: era boi!
 
 Primeira prenda do céu Santa-Virgem Imaculada
 Protege o gaúcho andando na coxilha ou na canhada
 E assim ele prossegue chegar ao fim da jornada
 Entra no rancho cantando com a bolsa recheada
 Para agradecer a Virgem reza junto a sua amada
 Ave-Maria, Ave-Maria abençoada.
 |  
                     
                      | Senhor! Quero agradecer-vos o Dom do chimarrão, fruto da 
                        erva-mate. Sua cor verde lembra-me a esperança.
 A bomba do chimarrão sugando a água quente 
                        é sinal de vida. A cuia arredondada é símbolo 
                        de amor universal. A roda do chimarrão representa 
                        o calor do coração humano que une o gaúcho. 
                        Todos bebem na mesma fonte, na mesma bomba.
 Senhor!
 Agradeço o Dom do chimarrão como remédio 
                        para o corpo e estimulante para o espírito.
 Agradeço também as diversas vitaminas e 
                        outros elementos provenientes da erva-mate, além 
                        de matar a sede, fortifica o organismo.
 Senhor!
 Fazei-me compreender que tomar chimarrão sozinho 
                        perde grande parte de sua eficácia, pois ele é 
                        uma espécie de oração ou liturgia 
                        comunitária, lembrando a Vossa Palavra: “Onde 
                        dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, estarei no 
                        meio deles”.
 Quantas estórias, anedotas e novidades contadas 
                        e estudadas ao redor do fogão a lenha espantaram 
                        o mau humor. Quantos problemas solucionados e quantas 
                        intrigas consertadas.
 Senhor!
 Quantos casais, famílias e vizinhos conservaram-se 
                        unidos por causa do chimarrão.
 Senhor!
 Até o silêncio entre uma e outra tragada 
                        do chimarrão pode converter-se em virtude. Casal 
                        unido pelo chimarrão permanece unido.
 Obrigado Senhor pelo chimarrão!
 |  
                     
                      |  
                          Oração 
                          do GaúchoDom 
                          Luiz Felpe de Nadal
 
 |  
                     
                      | Em 
                        nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença, Patrão Celestial
 Vou chegando, despacito, enquanto cevo o amargo de minhas 
                        confidências
 Porque ao romper da madrugada e o descambar do sol,
 preciso camperear por outras invernadas e repontar do 
                        céu
 A força e a coragem para o entrevero do dia que 
                        passa
 Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca 
                        e rebenque e esporas
 Se não se afirma nos arreios da vida,
 não se estriba na proteção do céu.
 Ouve, Patrão Celeste, a oração que 
                        te faço.
 Ao romper da madrugada e o descambar do sol, tomara que 
                        todo o mundo seja como irmão
 Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos 
                        outros o que não quero pra mim.
 Perdoa, meu Senhor, porque rengueando pelas canhadas da 
                        fraqueza humana
 De quando em vez, quase sem querer,
 eu me solto porteira afora...
 Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro...
 Mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito
 Ajuda-me Virgem Maria, primeira prenda do céu
 Socorre-me São Pedro, capataz da estância 
                        gaúcha
 Mas pra fim de conversa vou te dizer meu Deus,
 mas somente pra ti:
 Que a tua vontade leve a minha de cabresto
 pra todo o sempre até a querência do céu.
 Amém
 |  
                     
                      |  
                          Ave 
                          Maria do Peão Odilon 
                          Ramos
 
 |  
                     
                      | Ao reponte do sol que descamba no dia se aprochega para o arremate
 pelos campos e nos matos da querência
 no revoar da bicharada voltando ao ninho
 é hora de recolhimento
 No rancho que há no interior de mim mesmo
 eu, gaúcho de fé me arrincono e medito
 Despindo o poncho da vaidade e do orgulho
 tiro o chapéu, apago o pito
 e me achego pra uma prosa
 com o patrão maior
 Na sua presença meu sangue quente de farrapo
 se faz manso caudal
 entrego-lhe minha alma
 afoita de alcançar lonjuras e abrir cancha
 em busca do destino
 renuncio à minha xucra rebeldia
 me faço doce de volta e macio de tranco
 para dizer-lhe
 Gracias patrão
 por tudo que me deste por esta querência Senhor
 que meus ancestrais regaram
 com seu sangue e que aprendi a amar desde piá
 Pelos meus parceiros nessa ronda da vida
 sempre de prontidão para me amadrinharem na
 campereada mais custosa ou para matearem comigo
 na hora do sossego
 Reparte com eles, patrão
 esta fé que me deste e este orgulho pela minha 
                        querência
 Ajuda patrão a manter acessa esta chama
 concede sempre ao gaúcho a força no braço
 e o tino pra saber o que é correto
 Dá-nos consciência para preservar a nossa 
                        cultura
 livre da invasão dos modismos
 conserva a essência e a beleza da nossa tradição
 E agora, com licença patrão
 que vou aproveitar a olada
 para um dedo de prosa com
 Nossa Senhora.
 Ave Maria primeira prenda do céu
 contigo está o Senhor, na estância maior
 tu és bendita entre todas as prendas
 e bendito é o piá que trouxeste ao mundo, 
                        Jesus
 Maria, mãe de Deus
 E mãe de todos nós
 roga pela querência e pelos gaudérios
 que aqui moram nesta hora e no instante
 da última cavalgada
 Amém.
 |  
                     
                      | Pai nosso, bendito seja teu sagrado nome,
 lembra-te de quem tem fome,
 torna mais leve sua cruz
 e envolve com tua luz
 quem teu pão sagrado come.
 
 Seja 
                        feita a tua vontade
 conforme o teu mandamento,
 mas, dá-nos força e alento
 quer no fracasso ou na dor
 e aos meus irmãos, muito amor,
 muita paz e entendimento.
 
 Abençoa a nossa casa
 e aos que já foram pro além
 que a caridade e o bem
 se façam em sua memória
 e em teu nome, pra tua glória
 por todo o sempre. Amém.
 |  
                     
                      |  
                          Reza 
                          ChucraAlcy 
                          Cheuiche
 
 |  
                     
                      | Perdoe 
                          Virgem MariaPor lhe tomar atenção,
 Envolvendo um coração
 Tão puro e tão adorado,
 Nesta miséria qu'eu trago,
 Que arrasto, é melhor que diga,
 Por esta terra inimiga,
 Onde nunca fui amado.
 
 A 
                          Senhora bem se lembra
 Que nem sempre foi assim...
 
 Embora 
                          não fosse em mim
 Que a fortuna tinha ninho,
 Eu bem que tive carinho
 E uma mulher cuidadosa
 Que me deixava de jeito,
 Um lenço branco no peito,
 A bombacha bem limpinha,
 Quando para a igreja eu vinha,
 No tempo qu'eu fui feliz.
 
 Agora 
                          olhe pra mim.
 Veja esta roupa rasgada
 Qu'eu carrego com vergonha.
 Parece que a gente sonha,
 Quando vê que não é nada
 Prá dominar o seu vício
 Quando eu morava no pago
 As vezes tomava um trago
 No mais prá molhá a garganta
 E agora querida Santa,
 Até virei cachaceiro,
 Depois que bebo o primeiro
 Não há nada que me pare.
 E depois até que eu sare
 Vem me subindo a cabeça
 Toda essa vida passada
 E o rosto da minha amada
 Enxergo assim como em sonho...
 
 Ó 
                          minha Nossa Senhora,
 Escute ao menos agora
 Um pedido que le faço.
 
 Sei 
                          que a morte já me ronda
 Pela porteira do rancho...
 Até já vejo os caranchos
 Rodeando em volta de mim.
 
 Reconheço 
                          o meu pecado,
 E quando tiver chegado
 Lá na fronteira do céu
 Vão me apontar outro rumo:
 Ovelha com mancha preta
 Bota a marca na paleta
 Que só serve prá o consumo.
 
 Prá 
                          mim não há mais remédio,
 Não é prá mim o pedido.
 Sou índio chucro vencido
 Pelo vício aqui do povo.
 Eu 
                          peço é pelo meu filho,Que abandonei lá no pago
 Quando a sina de índio vago
 Me arrebatou da querência.
 Proteja 
                          a sua inocência...Não deixe que o coitadinho
 Siga este duro caminho
 Que está seguindo seu pai.
 Que 
                          fique por toda a vidaGrudado naquele chão,
 Que resista a tentação
 Com toda a força de machd,
 Que não morra como guacho
 Quando pará o coração.
 |  
                     
                      |  
                          Charla 
                          do PadreFrei 
                          Sadi Rambo
 |  
                     
                      | Ó 
                        Jesus Divino Tropeiro, filho do Patrão Celeste,
 ao mundo vieste,
 lá da Estância Celestial;
 pra nos afastar do mal
 nos trouxeste o perdão.
 Unidos num só coração,
 fazemos a nossa prece:
 o Rio Grande, agora, te agradece,
 pela gaúcha tradição.
 
 Quando 
                        chega a primavera,
 e o campo rebenta em flor,
 Tu nos mostras o Pai Criador,
 lá na roça e cá na cidade.
 Acredite, que é verdade:
 a palavra é a lei do pajador;
 neste dia abençoado
 peão e prenda, de todo lado,
 não se esquiva e nem se humilha,
 celebrando a Semana Farroupilha,
 do Sul ao Norte do nosso Estado.
 
 Num 
                        sentimento bem fraterno,
 venho falar de Nosso Senhor:
 verdadeiro guia e pastor
 do rebanho terrestre;
 Jesus é o nosso mestre,
 irmão e companheiro,
 que veio por primeiro,
 pra nos arrebanhar.
 Se houver ovelha perdida,
 mal criada ou até sem vida,
 Ele nos mostrou o caminho:
 que ninguém vive sozinho,
 sem ter alguém pra amar.
 
 Jesus, o Divino Tropeiro,
 fez morada de verdade,
 com amor e fraternidade
 no 
                        mundo inteiro;
 como gaúcho primeiro
 só nos pede guarida,
 paz e respeito à Vida,
 pra toda a humanidade.
 
 Por 
                        isso, neste galpão,
 reunidos de corpo e mente,
 se fazendo Deus presente
 com a benção e a oração,
 peço ao Deus Patrão
 que nos permita um afago
 neste horizonte do Estado,
 enlaçando a fronteira:
 gente buena e hospitaleira,
 bem ao sul do coração!
 |  
                     
                      |  
                          A 
                          Oração do PosteiroAureliano 
                          de Figueiredo Pinto
 |  
                     
                      | De 
                          tarde... Boleio a pernae maneio o redomão,
 -no portão do cemintério.
 (Tauras... santas... e gaudérios...
 tudo em baixo deste chão!)
 - Ë aqui... A cruz... Pé de flor...
 Me ajoelho... E, a voz num temblor,
 rezo uma pobre oração:
 Mãe-velha! Aqui está o teu piá,
 meio estropiado do mundo!
 Com o meu recuerdo mais fundo
 te juro por esta luz:
 - Mãe-velha! pela saudade
 da tua antiga bondade,
 eu vim te ver na tua cruz.
 Tua 
                          benção venho buscarpara os vereios da vida.
 Trago espichada e estendida
 minha esperança de pobre.
 Com medo que ela arrebente,
 venho te ver novamente
 sobre este chão que te encobre.
 Mãe-velha! 
                          Não fui maleva!Eu nunca te contrariei.
 E, se um dia, te magoei,
 logo pedi o teu perdão!
 Como quando tu vivias,
 no meu jardim de alegrias
 derrama o teu coração.
 Escuta! 
                          Santa Mãe-velha:-Pede a Deus junto a ti,
 que a estes teus netos-guris
 faça uns gaúchos de alma reta
 na conduta sem desmancho.
 E à neta... orgulho do rancho!
 porque inté é linda a tua neta.)
 Me 
                          ajuda a ver se deu jeitoque eles aprendam a ler,
 para o mundo compreender,
 sem gritos, ralhos, nem relhos.
 Por mim ensino o que posso:
 -Já les dei o Padre-Nosso
 e um pouco de teus conselhos.
 Que 
                          eles, sendo moços feitos,se por outros pagos cruzem,
 buenos e leais, não abusem
 da força que os tauras têm.
 Faz, que o destino confirme,
 tua neta - a gauchita firme!
 que nunca engane a ninguém.
 E 
                          se um dia estale a guerra,que encarem o sol de frente!
 com essa bondade valente
 que vem, mãe-velha, de ti.
 E honrem a marca da herança
 dos que empurraram com a lança
 esta fronteira até aqui!
 Que 
                          a mãe deles seja semprea boa e fiel companheira
 a quem pobreza e canseira
 é um galardão de Jesus.
 Quando a encontrei (comparando...
 fui como um cego sarando!
 -bobo do encontro com a luz.
 Que 
                          eu tenha força nos braços,coragem no coração,
 para agüentar o tirão,
 e a minha gente conduzir.
 E me dê sorte e bom vento
 para eu ganhar seu sustento
 e os trapos pra eles vestir.
 Que 
                          a saúde não me deixe!para eu criar a ninhada
 sem andar esparramada
 como filhos de avestruz.
 E com patrões mais humanos
 possa eu viver muitos anos
 para enfeitar tua cruz!
 Bueno... 
                          Mãe-velha... Vou indo...E ao tranco... Tenho a alma inteira
 presa na estrela boieira,
 que me olha, no céu parada,
 também tão longe e solita...
 
 - Como se o olhar de velhita
 me acompanhasse na estrada!
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